O meu dia a dia é carregado de stress.
A estrada é fonte de muitos conflitos e o desgaste emocional que provoca vai-nos transformando como pessoas.
Para fugir a isso tudo, e unir o útil ao agradável eu utilizo a moto como terapia.
Desta vez fui há procura de algo novo, um sitio onde se acabasse a estrada e começasse o paraíso!
Eis o primeiro sinal!
A estrada estreita sobe o monte que nos aproximam a linha do horizonte, deixando uma vista que muda a cada curva que passa.
Ao fundo estão as Peñas de Herrera, com mais de 1500m de altitude, são a marca que um antigo glaciar deixou para a posteridade.
E a estrada volta a retorcer-se para nos brindar com as surpresas menos esperadas!
Ali, metida no meio dos montes, ao abrigo de uma antiga muralha templaria do sec XII, estava Talamantes, onde se acaba a estrada!
Numa pequena exploração, conclui que a nível cultural e arquitectónico não tem muito para oferecer.
Trata-se de uma povoação normal, como todas as outras, cujas gentes vivem da agricultura de do gado.
Mas ao vaguear pelas ruas, a calma e a paz vão-se entranhando no corpo. Começas a andar mais devagar, não estas tão alerta, tudo te parece harmonioso.
Era isso mesmo que procurava, um escape, um sitio donde pudesse evadir-me e esquecer o mundo em que vivo!
Esta é a única muralha do antigo Castelo, construído pelos Cavaleiros da Ordem do Templo.
Pode-se subir e tocar as muralhas, mas para ser sincero, para alem do caminho sinuoso, o que realmente é bonito é ver todo em conjunto.
É aqui que Talamantes ganha beleza, como um conjunto, e não por algo cuja beleza ou importância anule a beleza do conjunto.
As cores do Outono dão há paisagem aquele sentimento bucólico da lareira, castanhas e vinho, com as primeiras neves a cair na rua.
Sim!
Aqui neva, estamos a 954m de altura!
Agora podemos ver a muralha com mais detalhe ao afastar-nos dela.
As Peñas de Herrera são fruto de um glaciar, que com a sua acção erosiva deixou este curioso recorte no horizonte!
Existem caminhos que nos levam praticamente até aos seus picos.
Não sei porque mas comecei a pensar na Dulcineia!
Esta ponte, de fundação medieval, atravessa o rio e leva-nos até há Ermita templaria de São Miguel, Santo Padroeiro de Talamantes!
Agua limpas, puras, sem tratamento que não seja o purificador dado pela mãe natureza, que enchem de som a vida de cada dia deste povo, para alem de o abastecer!
E o caminho torce-se mais um pouco….
Ate que chegamos há ermita….
Tudo muito simples!
Como a vida mesma, que tanto teimamos em complicar.
Hei-la!
Talamantes um Pequeno Paraíso!
Continuamos a subir o sinuoso leito do rio para chegar o bosque.
Não é muito comum em Aragão (salvo nas zonas mais montanhosas) encontrar pinhais e matas densas.
Para os amantes do senderismo esta zona é rica em caminhos, todos eles bem sinalizados.
E o rio serve perfeitamente de banda sonora a tudo isso!
Outra particularidade destas paragens é a abundância de todo tipo de cogumelos, comestíveis e não comestíveis, onde as jornadas micologicas de Talamantes dão a conhecer, entre outras coisas, as varias formas de destingir o cogumelo que torna um arroz delicioso daquele que te pode levar há morte em agonia.
Volto ao povo pelo caminho, com a ideia de que não posso fugir e encarar a minha realidade. Esta na hora de montar na Maria e voltar ao meu mundo complicado!
Não antes de fazer publicidade a esta reutilização muito original de uma bota!
Essa mesma bota que, muito provavelmente caminhou pelos caminhos deste pequeno paraíso.
Monto na Maria das Curvas e despeço-me das Penãs de Herrera apanhando a direcção de Alcala de Moncayo.
O mesmo povo que recebeu a “Vuelta” desta forma…
Outro conjunto que, em conjunto, parece bastante interessante!
E a estrada deixou de ser estreita, as curvas passaram a ser rápidas e a linha do horizonte mais longínquo.
Do Paraiso a Zaragoza há 87km de distancia e muitas curvas rápidas que Maria devorou com o apetite de sempre!