Manhã de Domingo e a primavera anunciava a sua chegada para breve, fazendo subir vertiginosamente o caudal do Rio Ebro.
Tinha sido assim durante toda a semana.
O rio, que acumulava aguas das chuvas, viu chegar ao seu caudal o degelo repentino dos Pirenéus, crescendo bem alem das barreiras impostas, inundando povos ribeirinhos, campos de cultivo e matando os animais que não puderam ser resgatados.
No meio disto tudo estava Maria e Dorothy, abandonadas a sua mercê numa garagem a escassos 1500m do Ebro!
Logo agora que estava a 2500km de distancia.
Telefonei a Policia Local:
– “Desculpe, sou residente em Utebo e estou preocupado. Pode dizer-me se existem problemas por causa da enchente do Ebro!
– Não lhe posso prestar essa informação, telefone há Jefatura na segunda feira!”
Telefonei a um colega de trabalho e ele disse que estivesse tranquilo que esta tudo bem!!!
Mas depois, volto a ler uma noticia que relatava problemas de infiltrações em garagens de Utebo e que ainda não tinha chegado o ponto alto da enchente!
“-Desculpa querida, sei que não deves sair de casa para te arriscares a ter problemas, mas preciso de saber se esta tudo bem com Dorothy e Maria das Curvas!
– Não te preocupes, vou ver se o meu pai pode levar-me lá!”
E foi assim que a minha heroína entrou em acção. Saiu de casa, fez os 15km de caminho e depois disse-me que não havia problemas, que as meninas estavam enxutas e tranquilas.
Ganhou assim o dia que vos vou descrever!
Manhã de Domingo, luminosa calma e enxuta!
Dorothy esperava por nós na garagem enquanto tratávamos de ordenar os nossos pertences no seu top case!
O nosso destino de hoje era uma recompensa ao seu trabalho heróico!
Ela já me tinha falado do spot, do entorno, mostrou-me fotos e a sua ligação há industria cinematográfica de Hollywood! Eu sempre quis ir mas integrado num espectro mais amplio, com outro tipo de visitas e mais extenso a nivel de km e de tempo.
Mas ela merecia, tinha ganhado que eu lhe dedicara o dia a este magnifico sitio que íamos visitar.
Saimos de casa, Dorothy apontando a Carretera de Huesca sem antes me avisar que tinhamos que parar para comer!
Comeu ela e comemos nós!
Depois dos respectivos estômago cheios voltamos há estrada, uma plana e aborrecida autovia, que nos levaria há “Holla de Huesca” e os seus campos ferteis, que foram testemunho de cobiça tanto de cristãos como de mouros no sec XI!
Quando finalmente abandonamos a Autovia, a estrada começava a aproximar-nos da montanha e, ao caminharmos para norte o primeiro que vimos foi Bolea!
La no alto a sua “escalinata”!
Os povos aragoneses, muitos deles milenares como este, são autênticos labirintos, onde as casas se amontoam de forma tão anárquica que chegam a terem formas estranhas. As ruas, ruelas e becos são de tão difícil acesso que, até mesmo nós que vamos de mota, temos dificuldade em circular por elas.
Mas o que queríamos ver estava bem lá no alto, um edifício de fundação romana com a sua “escalinata” que dava a sensação de estar fortificada.
Subimos com Dorothy até há “escalinata”, mas depois subimos a pé até la cima!
E de lá de cima…
…orientamo-nos na direcção do nosso principal objectivo, algures na encosta daquela montanha do outro lado de vale!
Agora tínhamos outro desafio….
Sair dali!
A rua por donde tínhamos vindo era de sentido único, pelo que agora teríamos que baixar por outro lado, sem evitar as ruas estreitas, descidas íngremes, com algum pequeno degrau e o urfar asfixiado dos cavalos de Dorothy!
Voltamos há estrada porque havia algo mais que ver antes de chegar a Loarre!
Lá no fundo, cravado na montanha, num sitio de acesso quase impossível uma ermita.
Aniés, é mundialmente conhecida por esta ermita!
Depois de debatermos com seriedade uma forma de subir até ali, decidimos que seria um dia em que viéssemos com a Dulcineia!
Como é!
Vamos lá então conhecer Loarre?
Quem já viu o filme Reino dos Ceus?
Tem tudo a ver!
O que vamos visitar foi “pano de fundo” em algumas cenas deste filme, que fala sobre a queda de Jerusalem em mãos muçulmanas.
Recomendo vivamente ver o filme!
Desde longe, construído no alto de um penhasco, e agora adornado pelas amendoeiras em flor, ergue-se a maior e mais conservada fortaleza militar de estilo Romanico da Europa!
O Castelo de Loarre, foi edificado pelo rei de Navarra (quando Aragão ainda não existia) como posto avançado sobre a linha de defesa muçulmana!
Chegar até lá é uma delicia, porque estrada oferece muitas curvas, com um piso de boa qualidade e paisagens a condizer!
Da parte de trás é mais ou menos assim!
Conforme os reinos cristãos foram avançando as suas fronteiras, o Castelo perdeu importância estratégica e dedicou-se há tarefa monástica.
Isso permitiu-lhe chegar até hoje num estado de conservação muito bom!
Como se pode ver, todo ele está apoiado sobre a rocha, o que nos dias de assedio impossibilitava a construção de túneis para fazer ruir as muralhas.
Desde a entrada do mesmo, já no interior do primeiro perímetro defensivo, as
vistas sobre a “Holla de Huesca” são impressionantes!
A entrada!
Como se pode ver, em alguns pontos talharam na própria rocha para construir escadas e acessos!
E aqui esta a minha heroína, admirando a Igreja de São Pedro, com uma abobada pouco frequente para os tempos em que foi construída!
Naquele então o Vidro não era muito comum, para que a luz entrasse nas janelas eram postas placas de “alabastro”, muito abundante na região e que era translucido!
Saímos para fora para contemplar as paisagens!
La fora, ao fundo o povo de Loarre e toda uma imensidão de verde que adivinhava a chegada da primavera.
Carolina caminhava deliciada e imaginando como seria viver ali, há mil anos atras!
Esta é a parte mais antigua do castelo.
A vertente norte, que gozava do status de inexpugnável!
A Sala da Rainha, com vistas para o sul e por donde se podia pensar que se tratava do posto de comando.
A Torre de menagem, cujo complexo era apenas comunicado por uma ponte levadiça, oferecendo assim uma fortaleza dentro da fortaleza!
Aqui inicialmente foi a casa de armas, mas depois de deixar de ser posto militar, adaptou-se para serem os dormitórios dos Monges que aqui viveram durante muito tempo!
O Castelo, visto desde o primeiro perímetro defensivo!
Voltamos a montar na Dorothy, para seguir o caminho.
Esta foi a foto de despedida do mítico Castelo de Loarre!
Não só nas grandes capitais existem torres com relógios!
Ayerbe não é excepção!
Mas o que vem a seguir é totalmente diferente.
Ha medida que caminhamos em direcção ao maciço pirinaico, as formações rochosas dominam na paisagem. E sobre umas, outras dominam mais!
Estas paredes rochosas, que se elevam varias centenas de metros do nível do chão, são o habitat natural do majestoso Quebra Ossos, uma das aves com maior porte da Europa!
Os Mallos de Riglos impressionam, por isso sempre que posso volto para fazer-lhe uma visita!
Carolina aproveitou a oportunidade para saudar a todos!
Seguimos estrada para outro sitio lindo a nível paisagístico e a nível motociclismo.
Este é o Rio Gallego, que vamos acompanhar durante uns kilometros.
A estrada é um dos exlibris dos motards aragoneses, com milhares de curvas, piso bom e paisagem a condizer.
Cada curva, umas mais técnicas que outras, exigiam há Dorothy aprumo e precisão e a nós os dois aquele trabalho necessário para que não houvesse acidentes nem sustos!
Ao final os sorrisos eram evidentes e não deixamos de prometer voltar a fazer de novo esta estrada.
Acabamos aqui!
Na entrada (fechada) da cidadela da Cidade de Jaca.
Frustrados e esfomeados, não desistimos da ideia sem antes tirar umas fotos ao exterior da mesma.
O fosso!
Uma das baterias de canhões de uma fortaleza que tem muito para contar….
Depois de comermos, fomos atacar o mítico Alto de Monrepos!
Ganchos intermináveis, negociados a mais de 120Km/h em inclinações de medo, que nos elevam até aos 1280m de altitude para descermos de novo para a “Holla de Huesca” e depois os intermináveis 120km de autovia até há Capital do Reino!
E assim foram feitos mais de 300km que serviram para que a minha Heroína testasse a sua capacidade de fazer grandes tiradas em moto, para alem de que, foi uma forma de a recompensar por ter saído de casa em socorro das minhas preocupações.
Muito obrigado minha “Luciérnaga”!
Do meu ponto de vista, e pelo seu sorriso ao final do dia parece que valeu bem a pena esta voltinha!