El Camino se hace al andar…. …..en Moto – As montanhas e a cruz de Ferro!

02-03-2016
As Montanhas e a Cruz de Ferro.

Quando acordas com a luz do sol a bater-te nos olhos não imaginas nunca que vais ter um dia delicado, mas emocionante!
Montar tudo na Artax, tomar o pequeno almoço e sair há procura do caminho!
Entre Leon e Astorga o caminho vai paralelo há N120, sem nenhuma dificuldade mais alem de ter que cruzar essa nacional, três ou quatro vezes.
Curiosamente o caminho parecia ter mais peregrinos dos que encontrei nos dias anteriores.

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Esta é a ponte medieval sobre o rio Orbigo em Hospital de Orbigo, que atravessei a medo por esta se encontra cortada ao transito. A proxima paragem seria na importante cidade de Astorga, com a sua Catedral Gotica e um edificio da Camara Municipal bastante peculiar.

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Ao avistar Astorga saltaram os alertas.
A coisa esta muito negra para ali para o fundo!
Talvez não seja descabido pensar em vestir o fato impermeavel quando saia de Astorga.

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Esta é a Camara Municipal de Astorga.
Que curiosamente tem um campanario peculiar!

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Podia estar aqui a esgrimir a historia deste ou aquele edificio, tendo como base o mentiroso do Wikkipedia, mas perfiro centrar-me em que houve alguem que o levantou, e que este se tem mantido de pé até aos dias de hoje!
É mais facil, practico e não dá tanto trabalho!
Isso sim! Aconselho a que o vejam antes que se desmorone!

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Idem aspas para este tambem, apesar de este me parecer mais contemporaneo….

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O problema de muitos monumentos, como esta catedral, é que a maioria estão “encaixotadas” no centro das povoações, tornando quase impossivel para um leigo como eu, fazer uma foto de jeito!
Mais uma vez, renovo a recomendação de a irem ver antes que isto caia tudo por terra!
Agora era tempo de entrar no desconhecido total, o “caminho galego” é a parte do caminho que menos conhecia, mesmo nos meus reconhecimentos feitos em camião, uma vez que galiza não é um destino muito frequente. Portanto, desconhecia quase tudo, terreno, estradas, povoações e as gentes!

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Tudo parecia indicar que seria facil, terrono seco, sem grandes dificuldades, sentindo apenas a ausencia da Civilização, que de vez em quando aparecia sobe a forma de uma povoação deserta e quase abandonada!

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Mas cedo o caminho começou a mostrar que não era tão assim!
Deixou de seguir paralelo há estrada, por entre arbustos e uma densa mata, O piso passou a ser molhado a enlameado, com a Artax a patinar com muita facilidade. Ao piso enlameado e empregenado de agua juntava-se agora o manto morto das folhas caidas no outono, que escorregava quase tanto como a neve. Em alguns momentos existia como pequenos charcos que obrigavam os peregrinos a explorar pequenos carreiros por entre o mato, coisa que me era impossivel fazer, tendo que por a mota nos charcos, com lama há mistura evitando sempre por pé a terra para não me molhar!
Começo a perceber que pouco a pouco vou ganhando altitude, que o horizonte é cada vez mais negro.
Por sorte encontrei um sitio mais ou menos seco e estavel para vestir o fato de chuva.
Agora que estava protegido contra a agua, reparei que não tinha abastecido a Artax, que teria gasolina para 50km (+/-). Como tinha previsto uma situação deste tipo, dado que Artax tem um deposito pequeno (8L), trazia no meu equipamento uma pequeno jerrican de 2,5L de Gasolina, que na pior das hipoteses, dava para mais 30km de autonomia. Decidi então que só gastaria este ultimo recurso, quando ficasse totalmente sem gasolina, permitindo assim saber quantos km fazia a reserva e ajudando-me a calcular melhor uma situação critica.
Uma vez de volta ao caminho, o chão tonra-se mais firme e pouco a pouco cheio de pedras.
Pelo caminho, que agora voltava a estar paralelo há estrada, mas num nivel superior, corria um regueiro que tinha crescido muito nas ultimas horas, que tinha deixado na sua descida muitas pedras soltas. Cascalho de rocha ferrea, de esquinas vivas, que deslizavam entre si quando Artax as pisava. Enquanto subia a golpe de gas, buscando sitios firmes para apoiarme com os pes, uma vezes regueiro a fora, outras vezes cruzando-o de forma a não ficar entalado, notava uma descida das temperaturas, assim como uma nevoa que se avisinhava.
Eu já suava, respirava ofegante e o Caminho punha à prova a minha condição fisica. Quando não havia subida, algo que me permitia descansar um pouco, não havia paz, o caminho era sedimento movediço depositado pela corrente, fazendo a Artax derivar no terreno, dar de cu e perder a pouca velocidade que levava. Depois voltava a subir, mais agua pelo regueiro, pedra solta e muita firmeza nos pulsos!
Ate que….

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A neve tratou de alargar o meu calvario…..
Sem saber o que se encontrava debaixo dela (da neve) depois da luta que levava já durante 5km, o bom senso disse “Volta para tras, apanha a estrada!”
Ainda pensei a em fazer uma pequena exploração ao terreno, mas a ideia de ficar atolado e ter que pedir auxilio para sair dali, pesou mais do que a frustração de dar a volta e descer tudo de novo!
E assim foi.
O pior é que a subir, como levo 10kg de bagagem podia compensar inclinando o corpo para a frente da mota, mas descer o movimento é inverso, para ganhar manobrabilidade e, ao por o cu e o peso no corpo sobre a roda traseira, ganhar efeito travão/motor. Ao não poder fazer este movimento, porque me estorvava o saco que levava a tras, tive que ter mais cuidado a descer os “degraus” que tinha subido minutos antes.
Quando por fim pisei asfalto respirei de alivio, sentia-me um vencedor, campeão do mundo de enduro na categoria “gajos que não pescam nada disto”.
Daquele ponto até Fuencabadon foram 6km…

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Fuencebadon é a povoação com o maior numero de Albergues por 1000 habitantes do mundo!
Tem 6 albergues para 6 habitantes….
Esta povoação esteve completamente abandonada nas decadas de 70, 80 e 90, começando a ganhar vida graças à maior afluencia de peregrinos.
Apesar de não ter as ruas asfaltadas, de os albergues conviverem com outras casa em ruinas, esta povoação encontra-se num ponto estrategico que permite aos peregrinos fazer um descanso no caminho!
Era isso mesmo que eu precisava….

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Entrei numa casa rustica, decorada com recordações deixadas pelos peregrinos, humilde, mas com uma lareira que aquecia a casa, para alem de perfumar casa com esse odor a lenha queimada tão carcteristico.
Dentro dela estavam dois peregrinos e o dono do albergue que, sentados há volta da lareira, falavam sobre as curiosidades do caminho.
Prontamente fui convidado a sentar-me, deram-me café e perguntaram-me de donde vinha.
-Zaragoza!
-E vens de mota?- perguntava um dos peregrinos
-Sim, sai na segunda feira de Saint Jean!
-Pois assim faz-se rapido! Nós já andamos à um mes no Caminho!
Foi então que lhe expliquei a minha motivação, a historia dos Cavaleiros do Templo e que se calhar estava louco, mas desde que com isso não fizesse mal a ninguem….
Foi então que o dono do albergue me falou de Manjarin:
-Se gostas de historias de templarios, entra dentro do refugio que falaras com um homem que diz ser o ultimo templario vivo.- e seguindo recomendou- Nevou muito nos ultimos dias, o melhor é descer pela estrada, o caminho é muito abrupto na descida, pode que encontres obstaculos que não consigas ultrapassar, e para dar a volta há mota não existe possibilidade. Quando encontres a Cruz de Ferro chegarás ao ponto mais alto do caminho e aí começas a descer até practicamente a Puenferrada, o melhor é que vas pela estrada.
Disposto a seguir os conselhos do estalageiro, montei na Artax com forças renovadas, apesar do nevoeiro e frio.

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Tudo encaixava com o que me tinham dito, inclusive tinha visto um outro peregrino a pé estrada fora.
Ao chegar à Cruz de Ferro sabia que estava perto dos 1700m de altitude, Artax encontrava-se na reserva e que até Ponferrada era a descer!
Manjarin era já ali, 5 km mais há frente!

Dentro do refugio encontrei um homem com uma idade de cerca de 80 anos, curvado pelo tempo, mas de voz viva e energica:
– Que queres tomar?
– Café!
-E caldo não queres? Acabei agora mesmo de o fazer…. – O refugio era uma casa quase em ruinas, fria, com moveis de madeira comidos pelos bichos, teto revestido a tela manchada pelo fumo da lareira mesa e bancos de madeira e o chão que parecia ser a mesma rocha donde o refugio assentava as suas paredes.
Numa das paredes a imagem de dois Cavaleiros do Templo, montados a cavalo, com as suas tunicas brancas e cruz vermelhas.- Gostas!?
-Bastante, tudo o que tem que ver com eles me fascina! Já estive donde morreu o ultimo grande mestre!
– Charles de Molay- e olhando para o teto- Malditos! Malditos! Malditos!
– Falta-me Jerusalem, mas tenho tempo!
-Toma cuidado, que desde 1298, depois da queda de São João de Acre que não estamos presentes para vos proteger!
– Eu mesmo, de forma muito humilde, tentei imitar esses guardiães, que ajudavam os peregrinos!
– É muito nobre da tua parte jovem, mas nós cumprimos votos e a nossa vida não é facil!
– Pois, sou um pecador!
-Todos somos pecadores…..
O silencio que se instalou só foi interrompido por uma pessoa a pedir autorização para entrar
– Entra, que a casa é tua!-gritava- Queres caldo? Acabei mesmo agora de fazer!
-Ola!- comprimentou um ciclista que retirando o capacete- Faz jeito, porque o frio entranha-se até aos ossos!
Terminei o meu café e despedi-me do velho que num ultimo olhar me disse:
– Que Deus te abençõe e tenhas muita sorte nas tuas aventuras! “Buen Camino”!
Depois de descer pela estrada uns 3km Artax começa a engasgar-se até que se cala. A partir deste momento tinha 2,5L para chegar a Ponferrada, se não encontrasse outra bomba de abastecimento antes.
A medida que descia ia vendo o caminho desimpedido, que ia quase sempre paralelo há estrada, sem neve e sem gelo pelo que me aventurei a fazer o que faltava até Ponferrada.
Quando me dei conta, já não havia volta a dar-lhe, era uma descida abrupta, por entre as pedras e a rocha mãe, que formava degraus polidos pelo tempo e os pes dos peregrinos. O caminho chegava a estar enterrado nos socalcos dos terrenos de cultivo, estreito e e sem saidas. Avançava lentamente escolhendo com calma cada sitio donde por a roda, evitando desiquilibrios e derrapagens. Sabia que se começasse a derrapar não havia forma de parar…
Dois km mais a frente entro outra vez na estrada, recuperando do susto. Artax ajudou-me muito, mais uma vez a mota é super equilibrada e muito maneavel, mas a minha experiencia é quase nula neste tipo de terrenos.

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Este é o Castelo de Ponferrada, construido pelos Cavaleiros do Templo.
Esta cidade esta assente numa bacia mineira, teve um papel importante na revolução industrial espanhola, pois daqui sai boa parte do carvão mineral produzido em Espanha.
Para alem de uma breve visita há cidade, a nossa prioridade foi abastecer Artax e o estomago, para voltar a atacar o Caminho.
No restaurante perguntei pelas dificuldades que o caminho me podia oferecer. A rapariga disse-me que “daqui a Santiago faz-se muito bem”.
Durante a tarde o sol voltou a brilhar, retirei o fato de chuva e procurei sair de Ponferrada com o objectivo de ficara dormir já na Galiza.

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A Galiza é assim, humida, saturada de agua, com muitas montanhas e animais soltos que se alimentam nos seus prados. Como podem ver nesta foto, a saturação dos solos era tanta que a agua brotava dos locais mais insolitos!
O Caminho, por agora asfaltado, voltava a subir em altitude, abandonando o asfalto mais há frente numa subida enlameada, já com alguns sinais de neve!
Apanhei balanço e foi graças a essa inercia que consegui subir sem ter que parar. Parar seria a morte do artista….

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Voltamos de novo ao asfalto, por poucos metros para depois apanhar o Caminho até O Cebrero, onde a lama e a neve não nos abandonaram até entrar na povoação mais bonita do caminho.

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Estava no ponto mais alto desta cerra, acima dos 1400m, e a vertente de descida estava, virada para norte, estava muito mais nevada, com zonas em que neve atingia os 40cm….
Decidi descer a estrada que ia paralela ao caminho, e muito bem, porque este se encontrava completamente sobmerso por uma grossa camada de neve.

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Aqui ainda me aventurei, mas mais abaixo o caminho estava intransitavel….
Só voltei a entrar no caminho quando já não havia vestigios de neve.

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E este descia montanha abaixo, as vezes largo, outras vezes rodeando socalcos, estreito e esguio, com degraus e rochas salientes, mas muito mais confiante devido há ausencia da neve!
O objectivo era Sarria, terra de bruxas e feitiços, mas onde tinha encontrado um quarto a um preço mais que acessivel!
Ao final do dia o mesmo de sempre, lubrificar a corrente, encher o deposito, jantar e dormir.
Faltavam 110km para abraçar o Apostolo.

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