O Gajo que Sussurra às Ducatis!

-Estou!
-Então! Vamos fazer umas curvas amanhã?
-Na boa, onde queres ir?
-É pá, sei lá, onde tu quiseres!- o ranhoso do meu irmão é sempre a mesma coisa. Desafia um gajo mas sempre que pode, pisga-se de responsabilidades organizativas.
-Pronto pá, amanhã esta preparado às 9h que vamos dar uma voltinha!
Eram 3 da manhã quando me levantei, faltavam 4 h de condução para concluir uma viagem a Varsovia e assim fechar um ciclo de 13 dias fora de casa. Durante o trajecto, pensava em que mota levar, se a Dorothy se a Maria das Curvas.
O meu irmão ia levar a sua nova “Milf”, de nome Julietta, que como boa Sucati que era (acho que Sucati já se pode escrever com maiúsculas) prometia alguma peripécia!
Foi então que eu decidi transformar o “passeio matinal de ida à Missa” num ajuntamento de milf’s.
Chegado há base, deixo a Havalina e monto na Artax que estava a minha espera à quase 15 dias. Não pude evitar fugir da monótona autovia, para me perder pelos caminhos dos Meandros do Ebro para ver se o gajo levava pouca ou muita agua.
Uma vez em casa, uns braços serpenteantes envolvem-me com ternura:
-Ayyyy! Mi chico há vuelto a casita!
-Sim, mas só me vim vestir, que vou sair de mota com o meu irmão.
-A si!? Te iba a proponer algo erótico festivo…. Las motos no pueden esperar?
Nem lhe respondi. Se isso é pergunta que se faça!

-Bom dia!
-Bora lá!?
As motos ganharam vida… ….quer dizer…. ….a Julietta ganhou vida!
Sim, porque com aquele chocalho ao meu lado, eu para ver se a Maria tinha vida tinha que olhar para o conta rotações.
Os domingos de manhã deixam as cidades desertas, pelo que sair de Zaragoza foi fácil e rapidamente nos víamos na autovia rumo ao deserto, onde no horizonte iam aparecendo umas montanhas ao longe.
A primeira paragem foi em Cariñena, terra dos famosos vinhos Crianza, criados em solos secos….

1 Cariñena

E ai temos as duas Milf’s.
Julietta, uma Ducati ST2 do ano 2002 e Maria das Curvas, uma CB1100X11 do ano 2000.
O objectivo era fazer as curvas ultra rápidas do Porto de Paniza, famoso pelo seu traçado e agora algo abandonado, uma vez que o transito agora foi desviado pela autovia que passa uns metros mais ao lado.
Antes de arracarmos , Julietta prega um susto.
O motor não quer ganhar vida e desde a minha mota vejo como este começa a olhar para dentro das carenagens, falando algo em voz baixa ate que, numa segunda tentativa, a moto finalmente começa a deitar fumo pelo escape!
Estava um dia de sol, que já ia alto, mas fazia frio e a primeira abordagem as curvas foram com alguma cautela, ate que vi como me ultrapassava uma mancha vermelha como se não houvesse amanhã!
Só a consegui apanhar lá em cima há base de espicaçar os cavalos todos à Maria.
A descida, em direcção a Daroca não é difícil, o que convida a andamentos muito rápidos, onde se notava que o V-Due da Julietta respirava com alguma dificuldade.
Paramos aqui.

3 Monumento ao Tranportista

Este é o monumento a São Cristoval, padroeiro dos viajantes.
Estivemos aqui a esticar a badalhoca durante uns minutos ate que eu reparei nisto.

2 Parafuso

-O que é isto pá! Então andas a perder a mota pelo caminho?
-Proprio do mau feitio da Julietta!- desculpa-se….
-E tens chaves para isso?
-Não!- encolheu os ombros- mas um gajo arranja sempre uma solução….
Nesse momento param perto de nós um grupo de três companheiros.
-Espera lá que vou ver se alguém tem uma chave de 8mm que nos empreste!
-Ok!
Mas não houve sorte, ninguém tinha a chave necessária.
Quando voltei às motas o parafuso já estava apertado.
-Então!? Como resolveste o problema?
-Julietta, gosta de mimos e eu, como ainda não sei bem o que mais gosta, sussurro-lhe coisas boas…..- não queria acreditar no que acabava de ouvir!
-Deixa-te de tretas!- respondi, enquanto pegava no capacete- Vamos mas é embora que se faz tarde!
Voltamos á estrada para aproveitar o sol, que lentamente aquecia o asfalto, e as curvas da estrada de Soria.
Um pouco antes de chegar a Calatayud, paramos para uma bucha matinal!

4 Almuerzo

Enquanto tratávamos dos ovos estrelados, nacos de lombo na brasa e salsichas frescas, tratei de averiguar como tinha apertado o parafuso, ao qual me respondeu:
– Tu não pescas nada disto, no mundo das duas rodas existem as Ducatis e as motas!- agora que cada um interprete isto como quiser- Cada uma com uma personalidade distinta. A Alice (uma Paso 750 que vive na garagem dos meus pais) deixava-se intimidar. Quando ela fazia birra um gajo tinha que ser contundente. “Como é que é Puta!? Pegas ou não pegas!?” E como tu bem sabes ela era super obediente! Ou pegava ou não pegava! Com a Julietta tem que ser diferente, temos que ser cariñosos! Ela gosta de mimos!
Eu não queria acreditar no que me acabava de contar. Tive que acelarar nas curvas que antecedem Calatayud para esquecer as barbaridades ouvidas. A dado momento o asfalto acaba-se!
-É pá o Castelo está lá em cima e as vistas para a cidade são bue fixes! Mas temos que fazer este caminho até lá cima!
-Espera lá!…. – e vejo incrédulo como ele lhe sussurra com festinhas e caricias sobre o deposito- Julietta concorda, vamos lá então!
Enquanto subíamos a leve subida, desviando os buracos e algum regueiro pequeno, pensava cá para mim que os fusíveis do meu irmão tinham queimado de vez!

5 Calatayud

Aí o temos!
A sussurrar!

6 Calatayud 2

Este é o castelo de Calatayud, de origem muçulmana , uma construção com mais de 1000 anos, cujas ruinas viveram quase todas as grandes modificações geomilitares da Peninsula.
Apos uma breve visita ao castelo, descemos a Calatayud para mostrar ao meu irmão boa parte da zona medieval da Cidade!
O que se segue é uma estrada ainda fresca na mente de alguns de vocês, mas como daquela vez foi registada num vídeo, agora tratamos de fazer algumas fotos, para alem de aproveitar e curtir as curvas!
A estrada acompanha o Rio Jalon quando atravessa o sistema iberico. Trata-se de um desfiladeiro apertado pelas montanhas do sistema, abruptas e escarpadas, apertando o rio e fazendo-o correr com decisão.
A estrada é o contrario, sinuosa, estreita e lenta, pondo à prova a agilidade das nossas maquinas e a técnica dos seus pilotos.

7 Mijada

Calma!
Não esta a sussurrar com as arvores (acho eu), esta mesmo a fazer um xixizinho!
Falar de uma estrada de curvas e apresentar uma reta nas fotos não me parece coerente, mas o que se seguia era, nada mais , nada menos, que isto!

8 Curvão

A estrada serpenteia como o rio, com curvas tão diversas que cada vez que a fazemos parece que é a primeira vez que a fazemos.
E quando subimos a encosta do monte e finalmente podemos tirar uma foto mais abrangente da estrada, ouvimos a aproximar o ruido de motos!
-Depressa!- disse para o meu irmão- Veem motos, pode ser a policia!
Foi então que ele me diz:
– A Julietta não quer pegar!
– Então está quieto! Dizemos que tens a mota averiada….
No horizonte apareceram duas tanquetas que, ao verem uma Sucati, prontamente pararam!
– Algum problema!?
-Olha! Deixem-se estar quietos que vamos fazer uma foto altamente!

9 Foto de grupo

Não ficou nada de jeito, mas o que é certo é que a Julietta assustou-se com o barulho do flash e pôs o chocalho a deitar fumo pelos escapes!
Continuamos estrada fora, ora ao lado do rio, ora subindo a encosta para depois voltar a ouvir o murmulho das aguas que correm em direcção ao Ebro, que as espera nos meandros de Sobradiel!

10 montanha

A estrada acaba perto de Morata (uma povoação sem jeito nenhum), onde apanhamos direcção do Frasno (outra povoação sem jeito nenhum) para depois fazer a monótona autovia de volta a casa.
Mas o mano velho tem o vicio de fumar, pelo que mais de meia hora sem fumar é frustrante.
Paramos aqui para matar o vicio….

11 grupo

-Então!? Curtiste?
– Ya! Altamente! E o dia ajudou!- disse enquanto olhava para a a mecânica da Julietta- Agora tenho é que tratar de cuidar esta menina!
– É pá, explica lá uma coisa que ainda não percebi muito bem!- queria aproveitar a oportunidade para que não houvesse possibilidade de se escapar- Já percebi que tu sussurras com a mota, que lhe fazes caricias e tal mas…. O que é que lhe dizes!?
-Palavras chave, para a motivar!
-Sim, ok! Mas que palavras!?
– É pá, coisas do género, “velas iridium”, “correias em kevlar”, “gasolina 98”, “ducati corse”, “martelo”, “maçarico” coisas do género!
-E funciona?
– Claro que sim! Principalmente que eu lhe der um jeitinho aqui no corta corrente para ele fazer contacto! Quer dizer…. Se fizeres esse jeitinho e disseres baixinho “Ó puta se tu não pegares , eu chego-te o fogo!” é 100% efectivo!
Os 15km que nos separavam de Zaragoza foram percorridos num misto de perplexidade e espanto!

Mas!!!

Voltaria a sair com o “Gajo que sussurras às Ducatis”!?
Isso será uma resposta que o futuro se encargará de responder!