O Dia Depois da Tempestade – A Ditadura dos Flocos de Neve

Seis e meia da manhã e encontro-me na cozinha a encher o meu saco de hidratação enquanto uma caneca de leite dá voltas no microondas.

Tinha chovido toda a noite e, apesar de ter deixado de cair, o céu que a contaminação lumínica deixava ver, era pesado e tumultuoso.

Procurei no telemóvel as previsões…

Probabilidade de chuva superior a 60%, cota de neve a 800m e temperaturas a roçar o 1 grau negativo. Reuniam-se assim as condições ideais para que nevasse.

Vesti o meu fato térmico, as meias xpto do enduro, preparei a câmara de filmar e de fotografar, um power bank, documentos e o meu Cat para me guiar.

Enquanto me vestía de gladiador pensava nos caminhos a seguir e nas dificuldades que podia encontrar…

Tudo muda quando me monto em Artax. Trato de ir curtir e as dificuldades passam a ser desafios e uma aventura para viver.

Saio de casa e no primeiro caminho desvío-me à direita.

Mas com cuidado para não matar os coelhos!

Os caminhos que me vou percorrer são predominantemente duros, e no verão com muito pó. Pó esse que se transforma numa massa argilosa e deslizante quando chove. Se a isto juntarmos uma base polida pelo Cierzo, a diversão está garantida!

Apesar dos vários sustos, conseguimos manter-nos em cima da mota e curtir bué!

Da grande planície pasamos aos montes que se agigantavam à medida que os íamos transpondo. A neve marcava presença nos pontos mais altos e locais mais recônditos. No caminho apareciam pequenos lençóis que quase sempre salpicavam ao serem pisados. A paisagem era um manto de retalhos variando entre o branco, o cinzento rochoso e o castanho argiloso dos campos agrícolas.

Tabuenca marca o fim da “planície” e, após cruzar a povoação, o início de uma “rampa” até Talamantes que se sitúa a uns já consideráveis 950m de altitude.

À saída de Tabuenca os caminhos já estavam todos assim!

A neve fofa e parcialmente derretida permitia circular pelos caminhos com alguma facilidade.

No entanto a primeira dificuldade apareceu com a neve a acumular-se na Artax!

Não era fácil pois acabava por impedir os movimentos dos meus pés!

Tive que parar a fazer uma limpeza.

À medida que me afastava de Tabuenca o caminho ganhava altitude, o rastro dos pastores e dos tractores desaparecia…

Pouco a pouco a neve revestia tudo, o caminho, as rochas, as árvores e os campos.

Aqui e ali haviam rastro de alguma perseguição de vida ou morte, protagonizadas por raposas e coelhos…

Mas a Ditadura dos Flocos de Neve impôs a sua vontade e éramos só nós, eu e a Artax, que lhe fazíamos frente.

O caminho retorcía-se no horizonte, a escassos 5 ou 6 kms de Talamantes num horizonte tão denso que não deixava ver os Molares das Penhas de Herrera.

Tratava-se de ver até onde podíamos ir, qual era o nosso limite!

Um forte banco de neve deixou a Artax impotente e numa avaliação consciente da coisa, decidi voltar para trás.

Com a mota atascada, pés molhados, gelados, só e no meio do nada, o melhor mesmo era retirar-me e voltar a casa via Santuário de Rodanas!

No entanto, não foi uma frustração no mau sentido. Cheguei a casa feliz porque me diverti, conduzi em situações diferentes ao normal e aprendi com isso!

Até já!

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O Dia Depois da Tempestade – Intro

Ultimamente as minhas saídas ao monte com a Artax tem sido mais numa de conhecer trilhos e vias de ligação para um projecto que ando por aí a pensar.

Não tem havido muito tempo para ócio, tenho saído com a Dorothy e a Maria das Curvas nos meus tempos livres.

A isto junta-se a impresivilidade da minha vida profissional e a pouca vontade de me sentar à frente do computador para editar as cronicas “comodevedaser”.

Por norma , quase todos os anos, costumo fazer uma visita ao Rey Moncayo, o pico mais alto do Sistema Iberico, que normalmente me recebe com o seu manto Real, frio e branco.

Este ano não foi excepção porque neste últimos dias o Rey sofreu a visita da Gloria (assim se chamou a tempestade) que, entre outras oferendas, vestiu o Moncayo com um espesso e branco cristalino manto de neve, que se extendia desde o seu pico (mais de 2300m) até ao seu sopé a 700m de altitude onde a neve deu lugar à chuva que abundantemente caiu deixando os terrenos agrícolas fartos.

Tinha chegado da Alemanha  e o meu chefinho deixou-me em stand by. Ou seja, “vai para casa que depois eu telefono-te”.

Montei na Seska e, enquanto subia pela estrada da Ribeira do Jalon, por entre as gotas que impactavam na viseira do capacete, podia ver parte do Moncayo, coberto de neve, com o pico rodeado por nuvens cinzentas. A minha mente facilmente navegou para lá, imaginando trapos caindo do ceu aos milhares, o vento que sacudia as neves acumuladas nas ramagens dos pinheiros, a neve acumulada nos caminho e estradas, o rasto das correntes montadas nos 4×4 dos guardas florestais.

Foi então que uma sensação gélida invadiu a minha “área testicular”…

Quando se anda de mota à Chuva, só custa a ficar molhado.

Mas a “área testicular” custa mais que as outras!

Está decidido, amanhã vou ao monte.

Amanhã vou visitar o Moncayo!