A Sierra de la Virgen é um pequeno grupo de montanhas situado na costa sul da montanha mais alta do Sistema Ibérico, o Moncayo.
Comecei o “ânus” novo com BabieKa na oficina, o que, como boa Kem Tem Muda (KTM) não era de estranhar. No entanto, a coisa lá se orientou e só estive quase dois meses sem a BabieKa…

Mas a espera ia continuar, pois o trabalho comanda a vida e o sonho teria que se aguentar à jarda.
Era tempo de ir visitar outra vez a velha de Windsor e isso significava uma semanita a contar traços descontínuos desde a cabine de Aída!
Nas horas de descanso ia procurando nos meus tracks o rabisco ideal para, sem me meter em terreno desconhecido, testar a mota e curtir o suficiente para aliviar a ressaca.
Sim, porque por mais kms fictícios que faça, ir ao monte é que é!
O que é certo é que, depois de deixar as vacinas na velha de Windsor fui flutuar até à terra das tulipas para encher a caixota refrigerada com, vejam lá bem, alho porro!
Tudo fazia adivinhar que, quando estivesse lá no chaco barraco, o tempo ia trazer sol e temperatura amena…
Pois bem…

O dia começou bem, com as nuvens atarefadas a cruzarem os ceus, um vento frio que cortava e umas temperaturas que, apesar de estarem próximas dos dois dígitos positivos, pareciam negativas (agradecimentos especiais ao Cierzo, claro esta!).
Este é o ponto, mais alto da Sierra de Monegre, muito perto do Santuario de Rodanas, com paisagens muito interessantes para o Vale do Jalon e uma grande encruzilhada de caminhos que te dão acesso directo ou indirecto a quase qualquer ponto do Sistema Iberico.
O caminhos que vamos fazer a seguir já são velhos conhecidos nossos. Babieka percorreu os pouco mais de vinte kms por caminhos sem qualquer dificuldade ate chegar a Niguella!

De Niguella a Brea de Aragon o caminho obriga a subir o monte, para, depois de vencer o cume e com o vale do Rio Brea à vista, a descida desemboca num pequeno desfiladeiro que guarda um caminho que acompanha o leito do rio!
Depois de Brea de Aragon, começa uma subida que paulatinamente te leva ao sopé do que é o colosso da Sierra de la Virgen, com o seu ponto mais alto (Pico Cabrera) a passar a barreira dos 1400m de altitude!
Até lá o caminho leva-nos por entre amendoeiras em flor, pequenos bosques de azinheira e pinheiro até à subida de Viver de la Sierra!
Enquanto vagávamos pelos vales ao abrigo das grandes montanhas sentia-se o frio de um dia, que há medida de que avançava a manhã, seria cada vez mais cinzento, cargado de nuvens de tom ameaçador mas que por algum motivo, apanhavam a boleia do vento para ir mais para norte…
Embora fossemos sempre por caminhos, todos os caminhos, sejam asfaltados ou não, vão dar a Viver de la Sierra, ultimo lugar habitado antes de nos metermos na “aventura” propriamente dita…
Depois de Viver, a natureza impera, os caminhos deixam de estar tão transitados, os regueiros que correm pelo caminho são como vasos sanguíneos por um antebraço, deixando pedra solta e muito sedimento depositado aqui e ali.
Esta seria a primeira grande prova em caminhos duros dos Michelin Tracker e BabieKa teria outra oportunidade mais para desgarrar, usar e abusar dos seus “saltos altos” para subir a montanha.
Curva após curva, rampa após rampa, o vento frio fazia entender porque a maioria do pessoal fica em casa neste dias. As temperaturas tinham baixado significativamente, o vento criava uma sensação térmica de cifras negativas e cada vez que parava, era para me lembrar que o melhor mesmo é não parar.
Em cima da mota não se passa frio!
Uma vez chegados ao cume, diante dos meus olhos abre-se o caminho que desejava voltar a fazer!
Este caminho leva-nos pela crista do monte, dando a oportunidade de contemplar paisagens explendidas tanto à direita como à esquerda, terminando no Pico Cabrera, a 1433 metros de altitude, o melhor promontório para ver as Tondras (formação glaciar) nas costas do Rey Moncayo!

Como bónus, estava tudo nevado, e nem mesmo a ausência de luz solar retirava beleza ao que se podia ver!

Mas o vento, esse maldito Cierzo, que dissipava de forma cruel todo o calor do corpo, rapidamente fazia lembrar que contemplar uma paisagem daquelas pode valer um período de hipotermia. Assim que o melhor mesmo era lançar-nos (literalmente) Monte abaixo!
Estes dois minutos e meio que nos custou baixar até ao abrigo dos frondosos pinheiros, deu a oportunidade de admirar ao longe o Farwest da Serra de Armantes, assim como toda a superfície “desértica” que o rodea, o vale do Ribota e, se nos esforçamos um bocadinho, as torres mudéjar de Ateca!
Uma vez ao abrigo do bosque a sensação térmica não é tão negativa, mas não nos podemos esquecer que estamos acima dos mil metros de altitude. Em cima da mota não há frio e BabieKa vai percorrendo os caminhos com precisão. Caminhos que agora são mais utilizáveis, sem pedra solta e de um piso duro e compactado fazendo excepção a uma poça ou outra, aqui e ali, de pequenas dimensões que não revestem preocupação de maior….
Íamos de caminho ao Santuario de la Virgen de la Sierra para curtir umas vistas especiais.

La no cimo, onde os caminhos acabam, encontra-se uma ermita e um refugio de montanha com vistas que abarcam inclusive paisagens de Castilla!

Uma vez na ermita aconselho a parar a mota, passear à sua volta, ir descobrindo as diferentes paisagens que nos oferece lentamente e, se não for um dia azedo como este, aproveitar o sol e os prados verdejantes para um bom banho de sol!

Ao fundo o protagonista de sempre, o Rey Moncayo, mas aquele pequeno lago artificial é a barragem de Maidevera, importante reserva de agua para os Verões que aqui não são propriamente meigos.
Ao lado da Barragem de Maidevera está Aranda de Aragão, uma pequena vila que vive essencialmente do pastoreio e da agricultura. A vila esta assente sobre uma encosta, coroada pelas ruinas de um Castelo que sofre um processo de restauro. As ruas labirínticas do povo desorientam a qualquer que não viva nele e não podiamos ser excepção. Depois de uma descida divertida, por um caminho estreito e ingreme, entramos em Aranda de Aragão à procura de um café quente que nos fizesse esquecer o frio que se nos entranhou nas costelas, mas não houve êxito. É um labirinto tão… ….tão labirinto….
Acabamos por desistir do café e seguir caminho rodeando o lago artificial de Maidevera pelo norte para seguir com a diversão!
Deixamos atrás a Sierra de la Virgen e começamos a segunda metade deste frio e “arejado”dia.
Este é o caminho que nos leva ao sopé do Rey Moncayo, que nos fará surfar por montes e vales até à planicie do Vale do Jalón…
Mas vamos por partes, infelizmente os caminhos teem sufrido uma metamorfose para aclimatar o monte para a próxima plantação de “Aerogeneradores”. O que outrora era um caminho roto e retorcido, hoje é uma estrada à espera de asfalto com toda a geometria necessária para habilitar a passagem dos veículos pesados que transportam aos sítios mais recônditos os monstros que combateu Quijote!

Felizmente as paisagens ainda não estão poluídas pelas pás que desenham sombras dantescas no chão ao pôr do sol, e ainda foi possível contemplar Calsena la no fundo, os pés do Moncayo, sem ouvir o incómodo zumbido que o Cierzo provoca nas pás dos monstros!

O mesmo já não se pode dizer desta colina, que já sofreu a “rapada” característica para albergar ao “molino de viento”!
Aquí, outrora foi um sítio de sombra e tranquilidade donde, em outros momentos, tive o prazer de piquenicar uma bela sandocha e um sumo de laranja natural ainda fresquinho.
Renovar-se ou morrer…
O lado escuro da nossa capacidade de superação, que nos torna racionais, mas nem sempre sensatos.
BabieKa insiste em levar-nos a sítios novos, sítios bonitos por caminhos mais interessantes, oferecendo alguma diversão.
A Ermita de San Cristóbal está a meio caminho entre Calsena e Trasobares e é outro promontório a não perder se o pessoal gosta de monte, maus caminhos, lama e frio, pois o sitio oferece boas vistas a Trasobares e dos montes circundantes!
Por falar em Trasobares…
Este é um vídeo esquisito, fruto de uma experiência….
Existe solapado em muitos grupos de pessoal que sobe ao monte, um debate sobre qual a melhor posição da câmara para que as imagens sejam fiéis ao vivido durante a gravação.
A maior parte do pessoal gostava de ver refletido nas imagens a dificuldade do terreno mas queixa-se que nem sempre o conseguem. Outros querem captar as paisagens e as imagens acabam por nao ser fieis ao que realmente se pode ver.
Na primeira parte do video gravei a subida com a camara no capacete onde não da para ver bem nem a inclinação, nem a dimensão dos regueiros, mas conseguimos perceber que ando sobre uma plataforma no terreno que esta sobre um “precepicio” rochoso. Na segunda parte do vídeo as imagens sao um pouco mais fieis, consegue-se perceber a inclinação, as dimensões dos obstáculos, a velocidade mas perde-se um pouco a panorâmica do lugar. Outro inconveniente +e que o som recebe/grava todas as vibrações que recebe da mota, uma vez que a camara vai fixa na mota!
Acabada a experiência, de Trasobares a Tabuenca os caminhos iam alternado entre caminhos agrícolas e caminhos florestais, onde as massas de arvores nos davam um descanso do vento frio que nunca nos abandonou!
Depois de Tabuenca apanhamos uma pista agricola, laraga e bem cuidada ate ao Santuario de Rodanas onde tudo começou umas horas antes!
Depois deste vídeo apanhamos o caminho para casa, porque o corpo ja pedia uma boa ducha e um bocadinho de descaso no sofá!